sexta-feira, 30 de maio de 2008

Vitória para a Ciência

Foi concedido, finalmente!, nesta quinta-feira (29-05-2008) a liberação (mas não irrestritamente, deixemos claro) do uso de células tronco no Brasil. O impasse já beirava à mixordia.
Embora as pesquisas não estivessem estacionadas, esse era o passo fundamental para que elas respirassem aliviadas, ou para que não viessem a sofrer sanções futuras, caso uma decisão em contrário à avalização viesse a se processar, o que tonaria essas pesquisas ilegais, e os resultados anteriormente obtidos, isentos de ética.
Aos pesquisadores agora cabe o uso racional dessa tecnologia. As reportagens tem sido bem enfaticas ao mostrar os dois lados da questão: prós e contras existem em todo os lugares. Nesse blog somos a favor do uso dessas células, e portanto, estamos felizes com o resultado obtido ontem com a liberação. As mudanças provenientes na lei de biossegurança, agora, é que devem ser colocadas na mesa e discutidas, pois reservas devem sim ser feitas.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Biólogos como comunicadores

A Biologia é uma ciência que não raro aparece polêmica e distorcida. Os estudos realizados nas diferentes áreas compreendidas pelas Ciências Biológicas, como prefiro chamar, dada a diversidade de temas, são alvo de um grande número de páginas dos principais jornais e revistas de todo o mundo, nas leituras realizadas por muitos comunicadores (assim vou sempre me retratar aos jornalistas, repórteres, autores de livros, blogueiros, ou qualquer pessoa que resolva produzir sentido através de enunciação - verbal, escrita ou imagética).
A maioria desses comunicadores geralmente tem uma formação dentro da área das Ciências Humanas, bastante teórica em sua estrutura, e isso gera dificuldades na compreensão da linguagem científica produzida pelos cientistas e pesquisadores das demais áreas do conhecimento.
Numa tentativa de resolver esse problema de imcompreensão e busca de sentido para a comunicação que deve alcançar o leitor, vejo o biólogo como ator no processo. Parte de seu trabalho pode ser justamente ser redator de enunciações que ele vê como essenciais e necessárias à divulgação para o público em geral. Mas, e não nos esqueçamos disso, essa "apropriação" da produção de comunicação feita por um biólogo deriva de um esforço pessoal em se comunicar e se fazer entender, que exige estudo e determinação, empatia e autoridade, compreensão e simplicidade.
O professor Wilson da Costa Bueno, da Universidade Metodista, concedeu uma pequena entrevista para tratarmos do tema. Wilson Bueno é docente do programa de pós-graduação dessa universidade e tem especialização em Jornalismo Científico. É autor de Jornalismo, Comunicação e Meio Ambiente, pela Editora Majoara, recentemente publicado. Acompanhe:

J&C -A Biologia é uma ciência de grande destaque nos meios de comunicação (impresso, televisivo) a cada salto surgido em suas áreas de pesquisas concentradas na resolução de problemas que marcam determinados momentos. Surge uma nova pesquisa, um novo a(in)cidente ambiental, e destaca-se o biólogo. Como um comunicador social vê essa relação dos biólogos com a mídia (externamente a ela)?

W.B. -Esta relação é , hoje, essencialmente positiva na medida em que, em função das pautas que incluem a Biologia e os biólogos, estes profissionais se tornam fontes indispensáveis. Esta parceria no processo de divulgação científica tem aproximado as duas áreas (Jornalismo e Biologia). Precisamos também de mais biólogos atuando como comunicadores.

J&C - Já quando se trata de divulgar a Ciência produzida, resultados obtidos, novas hipóteses e recentes teorias, vemos que a transposição do conteúdo científico (escrito por cientistas da área) para uma linguagem mais acessível ao público leigo leitor/ expectador em geral, é marcada por deslizes que comprometem o conteúdo exposto. Onde está o erro: nas explicações dadas pelos divulgadores das novas descobertas, ou na compreensão feita por quem reescreve de maneira mais simples o exposto?

W.B. -Os deslizes costumam ser cometidos por ambas as partes. Muitas vezes, os pesquisadores, os cientistas etc não se dispõem a um trabalho de parceria, não compreendem o objetivo de um trabalho de divulgação e se recusam a “descer do pedestal”, o que contribui para a incomunicação em virtude do discurso hermético e da complexidade natural do campo. Já muitos jornalistas e divulgadores pecam ao tratar questões complexas com displicência, sem atentar para os conceitos e processos envolvidos e, desta forma, desqualificam a cobertura, induzem a audiência (leitores, telespectadores etc) a uma leitura equivocada, incompleta, errônea. Mas esta situação já foi menos favorável e temos observado uma mudança positiva nos últimos anos, talvez porque ambos os lados se deram conta de que é preciso trabalhar em parceria e estão mais dispostos a democratizar o conhecimento.


J&C - Seria o caso de um cientista (biólogo, no nosso caso) fazer o papel de divulgador e disseminador de informações científicas? Essa competência lhe compete?

W.B. -O cientista deve, a meu ver, exercer também o papel de divulgador, visto que deveria estar comprometido com a democratização do conhecimento, a inclusão dos diversos segmentos sociais no debate das questões de ciência e tecnologia. Se ele não se dispõe ou não tem oportunidade de atuar como divulgador na mídia, deveria ao menos produzir textos, livros didáticos, proferir palestras ou mesmo estar disposto a interagir com a imprensa para contribuir para este processo de alfabetização científica.

J&C - Até que ponto pode o profissional biólogo se ver engajado na área comunicativa? Um profissional com esse perfil deve ter quais características? Que visão de mundo deve compreender sua formação?

W.B. -O biólogo, como todo profissional, exerce naturalmente esta função porque se comunica com os seus pares, com seus colegas e muitas vezes com seus alunos ou subordinados em uma empresa, mas é necessário capacitar-se e estar disposto para um trabalho mais amplo de divulgação. É fundamental para isso que ele reconheça as dificuldades que o “outro” tem de entender o discurso técnico-científico, compreender a essência do processo de divulgação e em particular o sistema de produção jornalística, a cultura jornalística em particular. Nosso mais importante jornalista científico, José Reis, era um biólogo.

J&C - Dos obstáculos que podem surgir na formação de um biólogo-comunicador, quais você vê como as principais dificuldades encontradas por esse profissional que abriga uma nova condição de ciência (a Ciência Lingüística)?

W.B. -O obstáculo maior é o biólogo não estar disposto a se colocar na posição do outro, não estar consciente de que o analfabetismo científico é uma realidade em nosso país e que ele tem esta função ou missão de informar. Se ele assumir esta perspectiva, buscará entender o universo lingüístico ou de conhecimento do público e estará empenhado em se fazer entender e em contribuir para a alfabetização científica e debate da política de ciência e tecnologia.

J&C - É possível que esse profissional seja responsável pelos mesmos erros cometidos por um comunicador social não “cientifizado” (vou usar esse termo para indicar quem não é cientista-biólogo)? Em que isso pode comprometer a ética determinada para a área em que se graduou e em que atua?

W.B. -Na verdade, o fato de ser um biólogo não garante que ele domine toda a área, assim como, por exemplo, um médico não domina toda a Medicina, embora esteja, mais do que o cidadão comum, familiarizado com determinados conceitos e processos e, portanto, encontre menos resistência ou dificuldade para lidar com temas complexos. O fundamental é ter em mente que o processo de divulgar implica também na competência em comunicar e que o problema não é apenas de conteúdo.

J&C - Que programa buscar para se qualificar como comunicador? As ofertas são grandes nas universidades brasileiras? Onde ir? Quem procurar? De que temas tratar?

W.B. -Tem crescido a oferta de cursos para a formação do jornalista e do divulgador científico e é possível indicar o curso de especialização , e agora também o Programa de Pós-Graduação em Jornalismo Científico, da Unicamp. A Fiocruz tem dado abertura a projetos nessa área e há outros programas de pós-graduação em comunicação no Brasil que abrem espaço para projetos em divulgação científica, como o da UMESP, por exemplo.

J&C - Qual sua visão pessoal sobre a inserção de biólogos na pesquisa comunicativa?

W.B. -Acho extremamente positiva. Além do José Reis, nosso decano, posso citar, por exemplo, o Eduardo Geraque, da Folha de S. Paulo, um biólogo com um trabalho absolutamente competente nesta área. Precisamos desta inserção, seja de biólogos, físicos, químicos ou cosmólogos, como o Marcelo Gleiser. Esta é uma área fundamental para o país que tem um ensino de ciências tão precário e precisa obrigatoriamente incluir os cidadãos no debate das questões de ciência e tecnologia que, mais e mais, impactam suas vidas (células-tronco, automação industrial, transgênicos, mudanças climáticas, nanotecnologia etc etc).

Um agradecimento especial ao professor Wilson Bueno, da Universidade Metodista, por nos conceder parte de seu tempo para a divulgação dessas informações.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A importância da preservação ambiental

Você já se perguntou alguma vez do por quê de ser tão importante preservar uma determinada área, um córrego, uma árvore? Nem sempre a resposta é tão fácil, ou simplesmente ela cai no “ecologismo”, uma vertente bastante desanimadora, que além de nada científica, tem críticas infundadas.
Numa tentativa de driblar esse “ecologismo” e trazer um pouco de luz para a importância de se preservar o ambiente, vou utilizar o trabalho de dois autores, uma publicação de 1982, de Terry Erwin (1), e um mais recente, publicado na Science, Lambais et al (2006) (2). Ambos os trabalhos refletem uma problemática bem estarrecedora: quantas são as espécies de organismos existentes no mundo?, ou seja, quantas espécies ainda não descritas o ser humano ainda está por conhecer.
Erwin analisou a quantidade de besouros existentes em árvores da floresta Amazônica. Para isso, coletou e contou os indivíduos de diferentes localidades e diferentes espécies de árvores, para saber quais espécies se relacionam diretamente com a espécie analisada e naquele local específico. Para que você que me lê entenda o trabalho, com essas coletas, ele procurou ver a relação existentes entre as espécies animais e vegetais e o número de espécies que se relacionam.
Acredita-se que o número de espécies que existem no mundo hoje, por modelos extrapolativos (modelos que deduzem quantas espécies existem sem de fato se ter contado todas elas) fique em torno de 10 a 100 milhões de espécies! Parece absurdo esse número e se tem uma margem de erro muito grande em uma faixa tão desencontrada de algarismos, na casa de 10 vezes entre um e outro, mas o importnate é que se conhecem em torno de 1,8 milhões, um número muito inferior a menor densidade prevista.
No trabalho de Erwin, em uma das coletas, em uma única árvore, foram coletadas 1.200 espécies de besouro em uma única espécie de árvore. Dessas espécies, 14% só são encontradas nessa árvore, e em nenhuma das demais, mesmo as que se encontravam ao redor dela. Vamos ter de fazer contas:



  1. Acredita-se que existam somente na Amazônia cerca de 50.000 espécies de árvores. Bom, como 14 % de um total de 1.200 espécies (só de besouros), números do exemplo de Erwin, correspondem a 163, vamos supor que cada árvore da Amazônia abrigue esse mesmo número de espécies: 163 x 50.000 = 8.150.000 de espécies de besouros.

  2. Vamos um pouco mais além nas considerações: os besouros são um grupo correspondente a 40% das espécies de insetos que encontramos na natureza. Portanto, para sabermos somente a quantidade de insetos existentes, vamos deduzir os 60% restantes:

40% de espécies são besouros --------------------- e somam 8.150.000 espécies
100% de espécies de insetos --------------------- x espécies


x = 20.375.000 espécies


Ou seja, somente de insetos, existiriam mais de 20 milhões de espécies no mundo.


Já sei, você acredita que esse número é muito absurdo. Claro que é! Não se esqueça que estamos extrapolando o número de espécies a partir de um evento de uma floresta tropical, com condições de hábitah insuperáveis em qualquer outra região do globo.


Agora vamos analisar o segundo artigo. Mas antes, deixo claro que ele corrobora os dados encontrados por Erwin para uma segunda classe de organismos. Nesse artigo, Lambais et al (2006) estudando a filosfera (o nome se refere às folhas da floresta como um bioma particular), encontraram a existência de espécies de bactérias nas folhas de espécies arbóreas da Mata Atlântica, entre 95 e 671 espécies de bactérias, das quais apenas 0,5 é comum tem sobreposição na filosfera. Imagine menos de 1 bactéria sendo encontrada em espécies de árvores dessa floresta? A estimativa fica em torno de (até) 13 milhões de espécies de bactérias, apenas na Mata Atlântica!!!!


Bem, vejamos: se o número de espécies em um local tão raro com uma árvore de um local não anteriormente descrito, ou da folha de uma árvore, é tão grande, que dizer de todos os ambientes diferentes que existem na biosfera?
Aqui é que coloco o fato da preservação dos ambientes. Quando você permite que uma árvore seja derrubada, pode ser que muitos dos seus desejos sejam atendidos: espaço, iluminação, conforto, praticidade. Porém se em uma única folha encontramos tantas espécies, imagine nos 97% de Mata Atlântica que já não existem mais? Sim, o homem pode ter destruído um número bem significativo de espécies ao derrubar a mata para construir parques industriais, ou pode ter levado à extinção um grande número de espécies por represar um rio. No seu quintal podem existir milhares de seres vivos que a Ciência desconhece, e você pode estar querendo dizimá-las por vontade de ter uma piscina. Sensacionalismo, eu sei, mas se você acredita que eu seja sensacionalista, eu o vejo como um ventríloco, e todo o ambiente é sua marionete, que você guia a bel-prazer.

Erwin já falava sobre isso em um comentário em texto que se encontra em Biodiversidade (1997) (3), de sua autoria, comentando esses números tão fantásticos e polêmicos que partilhou com o mundo. Escreve ele:

"Estamos adquirindo rapidamente uma nova imagem da Terra, e ela está cheia de milhões de espécies que estão a ponto de serem substituídas por bilhões de pessoas famintas, asfalto, tijolos, vidro e barro vermelho inútil atacado pela erosão da força do sol tropical. Muitas forças da evolução afetaram os besouros [...] e muitas outras formas de vida do planeta. Muito mais tarde na escala do tempo geológico, uma nova força propulsora apareceu, os humanos." (in WISON, 1997)

PENSE NISSO!



1. ERWIN, T. L. 1982. Tropical forests: their richness in Coleoptera and other Arthropod species. Coleopt. Bull. 36(1): 74-75.

2.

3. WILSON, E. O. et al. Biodiversidade. Trad. Marcos Santos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Vírus HPV

Descoberto desde épocas remotas, na Antiguidade, já acometendo nesse período os povos do crescente fértil na Ásia, o Papilomavírus humano ataca uma região muito sensível do aparelho reprodutor, chamado colo do útero, nas mulheres. Isso não significa que ele não infecte homens, mas a resposta imunológica é diferente em homens e mulheres.
Em homens e mulheres o HPV é o responsável por causar uma doença conhecida como “crista de galo”, dada a quantidade de verrugas provocadas pela multiplicação das células infectadas, que aumentam rapidamente. O contágio, segundo o estabelecido pelas pesquisas, se dá por contato direto com pessoas infectadas com o HPV. Mas nem sempre aparecem sinais de infecção: em 90% dos casos, o organismo elimina o vírus sem que a pessoa tenha sequer notado estar infectada, mas já pode transmitir o vírus.
Nas mulheres, leve coceira, corrimento ou dor na relação sexual podem ser sinais de infecção. Mas a doença de fato só acomete umas poucas mulheres, e nas demais o próprio organismo se encarrega de liquidar o vírus.
Dos casos confirmados da doença, menos de 1% podem ter uma complicação da enfermidade, que gera o câncer de colo do útero. Com porcentagem tão baixa, o simples uso de preservativo seria suficiente para eliminar esses casos, além de prevenir contra uma série de outras doenças transmitidas pelo ato sexual direto. Não bastasse isso, é importante que você que faz sexo oral ou anal tenha cuidado, pois como essa família de vírus ataca principalmente mucosas, você pode ter algumas das complicações na boca ou no canal anal.
Da família viral dos papiloma, cerca de 100 vírus são identificados como infecciosos para o ser humano. Muitos deles são eliminados, e condições de estresse ou gravidez, que deixam o organismo sensível, são suficientes para uma infecção maior, ou para o desenvolvimento de câncer de colo do útero. Previna-se.


Nota: Aqui o termo câncer de colo DO útero está sendo assim empregado por existirem outros cólons orgânicos, ou seja, o colo do útero é apenas um desses colos. Em reportagens lidas para a postagem dessa matéria, verifiquei que muitos autores escrevem câncer de colo DE útero, que pode gerar confusão no entendimento do termo. Para evitar a confusão, opto pelo uso do termo com artigo anterior à palavra. Não vejo erro na grafia sem artigo, mas vejo a possibilidade de discrepâncias.