quarta-feira, 7 de maio de 2008

A importância da preservação ambiental

Você já se perguntou alguma vez do por quê de ser tão importante preservar uma determinada área, um córrego, uma árvore? Nem sempre a resposta é tão fácil, ou simplesmente ela cai no “ecologismo”, uma vertente bastante desanimadora, que além de nada científica, tem críticas infundadas.
Numa tentativa de driblar esse “ecologismo” e trazer um pouco de luz para a importância de se preservar o ambiente, vou utilizar o trabalho de dois autores, uma publicação de 1982, de Terry Erwin (1), e um mais recente, publicado na Science, Lambais et al (2006) (2). Ambos os trabalhos refletem uma problemática bem estarrecedora: quantas são as espécies de organismos existentes no mundo?, ou seja, quantas espécies ainda não descritas o ser humano ainda está por conhecer.
Erwin analisou a quantidade de besouros existentes em árvores da floresta Amazônica. Para isso, coletou e contou os indivíduos de diferentes localidades e diferentes espécies de árvores, para saber quais espécies se relacionam diretamente com a espécie analisada e naquele local específico. Para que você que me lê entenda o trabalho, com essas coletas, ele procurou ver a relação existentes entre as espécies animais e vegetais e o número de espécies que se relacionam.
Acredita-se que o número de espécies que existem no mundo hoje, por modelos extrapolativos (modelos que deduzem quantas espécies existem sem de fato se ter contado todas elas) fique em torno de 10 a 100 milhões de espécies! Parece absurdo esse número e se tem uma margem de erro muito grande em uma faixa tão desencontrada de algarismos, na casa de 10 vezes entre um e outro, mas o importnate é que se conhecem em torno de 1,8 milhões, um número muito inferior a menor densidade prevista.
No trabalho de Erwin, em uma das coletas, em uma única árvore, foram coletadas 1.200 espécies de besouro em uma única espécie de árvore. Dessas espécies, 14% só são encontradas nessa árvore, e em nenhuma das demais, mesmo as que se encontravam ao redor dela. Vamos ter de fazer contas:



  1. Acredita-se que existam somente na Amazônia cerca de 50.000 espécies de árvores. Bom, como 14 % de um total de 1.200 espécies (só de besouros), números do exemplo de Erwin, correspondem a 163, vamos supor que cada árvore da Amazônia abrigue esse mesmo número de espécies: 163 x 50.000 = 8.150.000 de espécies de besouros.

  2. Vamos um pouco mais além nas considerações: os besouros são um grupo correspondente a 40% das espécies de insetos que encontramos na natureza. Portanto, para sabermos somente a quantidade de insetos existentes, vamos deduzir os 60% restantes:

40% de espécies são besouros --------------------- e somam 8.150.000 espécies
100% de espécies de insetos --------------------- x espécies


x = 20.375.000 espécies


Ou seja, somente de insetos, existiriam mais de 20 milhões de espécies no mundo.


Já sei, você acredita que esse número é muito absurdo. Claro que é! Não se esqueça que estamos extrapolando o número de espécies a partir de um evento de uma floresta tropical, com condições de hábitah insuperáveis em qualquer outra região do globo.


Agora vamos analisar o segundo artigo. Mas antes, deixo claro que ele corrobora os dados encontrados por Erwin para uma segunda classe de organismos. Nesse artigo, Lambais et al (2006) estudando a filosfera (o nome se refere às folhas da floresta como um bioma particular), encontraram a existência de espécies de bactérias nas folhas de espécies arbóreas da Mata Atlântica, entre 95 e 671 espécies de bactérias, das quais apenas 0,5 é comum tem sobreposição na filosfera. Imagine menos de 1 bactéria sendo encontrada em espécies de árvores dessa floresta? A estimativa fica em torno de (até) 13 milhões de espécies de bactérias, apenas na Mata Atlântica!!!!


Bem, vejamos: se o número de espécies em um local tão raro com uma árvore de um local não anteriormente descrito, ou da folha de uma árvore, é tão grande, que dizer de todos os ambientes diferentes que existem na biosfera?
Aqui é que coloco o fato da preservação dos ambientes. Quando você permite que uma árvore seja derrubada, pode ser que muitos dos seus desejos sejam atendidos: espaço, iluminação, conforto, praticidade. Porém se em uma única folha encontramos tantas espécies, imagine nos 97% de Mata Atlântica que já não existem mais? Sim, o homem pode ter destruído um número bem significativo de espécies ao derrubar a mata para construir parques industriais, ou pode ter levado à extinção um grande número de espécies por represar um rio. No seu quintal podem existir milhares de seres vivos que a Ciência desconhece, e você pode estar querendo dizimá-las por vontade de ter uma piscina. Sensacionalismo, eu sei, mas se você acredita que eu seja sensacionalista, eu o vejo como um ventríloco, e todo o ambiente é sua marionete, que você guia a bel-prazer.

Erwin já falava sobre isso em um comentário em texto que se encontra em Biodiversidade (1997) (3), de sua autoria, comentando esses números tão fantásticos e polêmicos que partilhou com o mundo. Escreve ele:

"Estamos adquirindo rapidamente uma nova imagem da Terra, e ela está cheia de milhões de espécies que estão a ponto de serem substituídas por bilhões de pessoas famintas, asfalto, tijolos, vidro e barro vermelho inútil atacado pela erosão da força do sol tropical. Muitas forças da evolução afetaram os besouros [...] e muitas outras formas de vida do planeta. Muito mais tarde na escala do tempo geológico, uma nova força propulsora apareceu, os humanos." (in WISON, 1997)

PENSE NISSO!



1. ERWIN, T. L. 1982. Tropical forests: their richness in Coleoptera and other Arthropod species. Coleopt. Bull. 36(1): 74-75.

2.

3. WILSON, E. O. et al. Biodiversidade. Trad. Marcos Santos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

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